11 coisas que as crianças nos ensinam e que deveríamos aprender
- Danielle Apocalypse
- 18 de jan. de 2024
- 11 min de leitura
Hoje eu vou falar sobre um artigo que li há um certo tempo atrás e que resolvi guardar para depois refletir sobre ele com mais calma. O artigo “11 coisas que todos os pais deveriam saber (11 Things I Wish Every Parent Knew)”, publicado no site Mind Body Green em 2013, foi escrito pelo médico pediatra americano Dr. Stephen Cowan, de Nova Iorque, e na época me deixou simplesmente boquiaberta com a genialidade simplista deste profissional.
Ao ler novamente o artigo, fiquei tremendamente surpresa ao constatar que muito do que ele observou são coisas simples que tenho certeza de que muitas de nós já pratica ou que podemos passar a praticar em nosso cotidiano familiar, mas que nem percebemos ou nos damos conta, tamanha a nossa falta de tempo para observar a educação que oferecemos aos nosso filhos em nosso tão corrido e aflito dia-a-dia.
Após 25 anos cuidando de milhares de crianças, Dr. Cowan, explica de forma simples e clara alguns padrões observados por ele próprio enquanto exercia sua profissão, e que deram a ele uma enorme visão do que realmente significa ter saúde, através do que ele mesmo aprendeu de seus pequenos pacientes. Ele divida a matéria em 11 lições, que abordavam as seguintes questões, e que fiz questão de traduzi-las:
1. Crescimento e desenvolvimento não é corrida.
Segundo o pediatra, hoje em dia, nós pais, ficamos muito aflitos e ansiosos para que nossos filhos cresçam e madureçam rápido, como se isso fosse uma enorme urgência. Na opinião dele, em nosso mundo mecanizado, pós-industrializado de velocidade e eficiência extremas, acabamos nos esquecendo de que a vida é um processo de amadurecimento. E que, para obter os melhores frutos, é necessário que se plante boas sementes para que estas criem raízes fortes. Em sua analogia, toda família deve prestar atenção ao solo que dá suporte à vida de seus filhos. Ele sugere caminhadas com eles, comer com eles, brincar junto, contar histórias sobre a nossa própria infância e nossas experiências como quando também crianças. (Fácil, não é mesmo? Fazemos sempre? Sim, talvez, nem tanto como desejamos, porém nada tão difícil que não possamos começar agora, né?)
2. Criar tradições familiares fortalece as raízes e encoraja uma vida saudável.
Há uma enorme razão das tradições serem passadas de avós para pais, de pais para filhos e netos e assim por diante. Sejam elas simples almoços todos os domingos na casa dos avós, pequenas comemorações pessoais, ou Natais e Anos Novos na casa de praia com toda a família reunida todos os anos.
Confesso que nunca entendi porque era tão importante para os meus pais nos obrigarem a ir à missa todos os domingos, ou participar de cada aniversário familiar todos os anos, ou estar presente na mesa hora do jantar ou nos almoços nos finais de semana, até ser mãe e sentir falta de tudo isso.
Chega uma idade que achamos que tudo isso nada mais são que obrigações chatas, e deixamos de cumprir a maioria delas, sem pensar que poderiam se tornar tradições valiosas, além de memórias de infância especiais. Até ler o artigo, achava que tradições seriam apenas tradições ou memórias, ou um desejo inconsciente de passar algo que nos foi também ensinado, além de promover um tempinho extra tão valioso em nosso convívio.
Nunca parei para pensar que estas mesmas tradições pudessem fortalecer raízes ou promover a saúde.
De acordo com Dr. Cowan, construir tradições leva tempo e muita prática, pois uma tradição só se torna uma quando repetida muitas vezes. Tradições pessoais são sagradas, pois promovem trocas que fortalecem os laços de amor e intimidade entre as pessoas e ajudam a aumentar a confiança e auto-estima que irão acompanhar nossos filhos para o resto da vida deles.
3. Todos nós crescemos em ciclos.
De acordo com Cowan, há um certo ritmo e uma pulsação na vida de cada criança – as vezes rápidas e intensas, noutras devagar e silenciosas. Como toda nova primavera traz um novo senso renovado de apreciação pela vida, cada estágio na vida de uma criança é uma nova fase de descobertas e maravilhas.
Até por que, o aprendizado não é apenas um processo de apenas obtenção de informação, mas um processo de transformação de ideias, e muitas vezes isso exige um certo esquecimento para que se possa enxergar tudo com um novo olhar. Ele ressalta que é até comum que algumas crianças retrocedam alguns passos, antes mesmo de dar um enorme avanço.
Este crescimento em ciclos que ele diz significa que não temos apenas uma única chande de aprender algo, mas que esta mesma lição nos é apresentada novamente por diversas vezes enquanto atravessamos as diferentes fases de nossas vidas. O que me deixa mais aliviada na questão “mea culpa” ao observar um erro nosso ao longo desse maravilhoso e ao mesmo tempo doloroso processo de criação. Segundo ele, há um profundo perdão neste processo de entendimento da infância, que na maior parte das vezes tira a pressão dos pais de “acertar tudo de primeira”. Ufa! Mil vezes ufa!
4. Encorajamento não é o mesmo que indulgência.
Sempre soube que não era bom fazer TUDO por nossos filhos, mas é tão difícil as vezes não dar aquela facilitadinha aqui ou acolá. Impedir que fracassem, ou até mesmo poupá-los daquilo que julgamos vir a ser um sofrimento. É bem mais fácil e sem falar, mas rápido, executar a tarefa nós mesmos do que apenas encorajá-los a agir de certa forma e esperar pelo resultado.
Aqui ele nos explica que não temos a obrigação de criar reis e rainhas. Os monarcas não levam a melhor na nossa atual sociedade. Estudos recentes já mostraram que a indulgência enfraquece o poder de sobrevivência da criança, diminuindo a sua motivação e o seus sentimentos sobre o sucesso.
Dr. Cowan explica que o encorajamento significa induzir a coragem na criança, e não simplesmente fazer as coisas por ela. Ele nos sugere criar um contexto de apoio que abrirá um caminho ao invés de empurrar a criança na direção dele.
Segundo o médico, o nosso amor incondicional é a base que encoraja a criança a se testar e arriscar, experimentar e falhar sem julgamentos. Às vezes, se tornar uma presença encorajadora na vida dos nossos filhos significa sair um pouco de cena, ficar no fundo da platéia, na sombra, e só oferecer a mão quando as circunstâncias se apresentarem, mas sempre confiando na ingenuidade natural dele.
De acordo com ele, há uma amplidão no encorajamento. Já a indulgência, por outro lado, limita a liberdade inflando o senso de titularidade ou de direito da criança, reduzindo a sua paciência necessária para trabalhar os obstáculos que surgem quando ela por ventura não obtém de forma instantânea o que deseja.
Assim, a indulgência leva à uma mente fechada, de pensamentos pequenos.
5. A provocação é uma prática espiritual, e as crianças são nossos professores espirituais.
Na opinião do autor não precisamos de um retiro espiritual para nos tornar seres mais iluminados. Ele diz que a nossa solução está bem diante de nós, nossos pequenos professores espirituais em casa, capazes de nos oferecer a verdadeira sabedoria, de graça!
As crianças observam todos os seus movimentos desde pequeninos, e estudam nossas inconstâncias ao tentarem entender esse mundo louco em que vivemos.
E eles irão chamar nossa atenção, nos provocar até o limite. Segundo Dr. Cowan, quando uma criança nos provoca, devemos nos lembrar que: são os NOSSOS LIMITES, não os dela. Ele sugere nos dispôr a ouvir o que ela está tentando ensinar. Pois, um dos segredos da paternidade ou maternidade é a nossa boa vontade ou disponibilidade de por amor nos transformar para nossos filhos. A questão é que quando estamos dispostos a olhar para dentro de nós mesmos e enxergar nossos limites e fraquezas, acabamos abrindo uma maior consciência e um autoconhecimento mais profundo que será ainda mais transformador para ambos.
Tenho uma amiga que sempre disse: os filhos chegam para nos desconstruir – eu sempre achei genial, e deve ser exatamente disso que ele está falando. Não adianta achar que eles fazem de propósito, só pra te irritar. Tem uma coisa ali, e eu devo prestar atenção para descobrir o que é.
6. Um sintoma é a forma do corpo de nos mostrar que algo precisa mudar.
Um boa prática de medicina deve tentar descobrir o que aquele sintoma está tentando constatar, ao invés de um remédio para simplesmente suprimir, atesta o médico.
Segundo ele, o nosso corpo possui inteligência própria, e mesmo assim a indústria farmacêutica com a sua propaganda tenta nos convencer que há sempre algo de errado em sentir esses sintomas. Muito do treinamento médico do Dr. Cowan e de muitos outros médicos de sua geração, era focado em acabar com os sintomas como se fossem problemas (como mandar o seu corpo calar a boca quando ele tenta te dizer algo importante, isso é muito rude além de ser nada inteligente!). Dessa forma, somos convencidos a não confiar na inteligência do nosso corpo. Acabamos por pensar demais e ficamos com medo dos sentimentos dentro de nossos corpos. Mas segundo Dr. Cowan, uma das coisas que as crianças o ensinaram, é que um sintoma como a febre, por exemplo, não é de fato o problema.
Segundo ele, seja lá o que for que esteja causando a febre, o aumento de temperatura é simplesmente a forma que o corpo tem de lidar com o que está ocorrendo no corpo. Por exemplo, no caso de uma criança com febre, é necessário verificar quais os outros sintomas que ela apresenta para detectar o real problema. Se a criança se apresenta disposta, você pode não ter que suprimir essa febre. O médico explica que esta reação do corpo é a sua forma de tentar criar um aquecimento metabólico para mobilizar o sistema imunológico e que, para ajudá-lo, você pode dar à criança líquidos em temperatura ambiente (nunca gelados) para não desidratar e alimentá-la com sopas mornas para fomentar ainda mais a temperatura dentro do corpo, para que ele possa reagir mais rapidamente.
Esta, na minha opinião, é uma das tarefas mais difíceis. Que mãe que não se apavora quando uma febre surge, assim do nada? Eu confesso que tento manter a calma nessas horas, e na maioria das vezes consigo, mas para mim, qualquer doença, pequena ou grande é uma preocupação a mais. Mas entendo o que ele quis dizer sobre os sintomas, sobre a real investigação e a energia toda dispensada. Observação, intuição, paciência são as chaves aqui, e claro, a próxima lição!
7. Esteja preparado.
Uma das frases mais importantes em qualquer grupo de escoteiros, segundo o pediatra era: “Esteja preparado”! Ou melhor, para nós, sempre alerta. Segundo ele, estar sempre alerta ou preparado é um estado de prontidão que pode ser alimentado por confiança ou medo. Ele conta que atualmente, em sua profissão, costuma praticar “medicina preparatória” ao invés de preventiva, para que adoecer não seja visto como um fracasso. E ainda deixa escapar um segredinho genial: estar saudável não significa que você nunca irá adoecer. Achei genial!
Porque como mãe temos mesmo a tendência em querer que eles fiquem sempre limpinhos e não adoeçam nunca! (Veste o casaco, sai da água, olha o vento, cadê o sapato, lave as mãos, sai do sereno… e por aí vai!)
Ele explica que a vida é uma viagem de altos e baixos e uma criança em crescimento vive em um constante estado de fluxo, ou seja de mudanças contínuas. De acordo com o médico, um sistema imunológico resiliente é aquele capaz de aprender como adoecer e depois melhorar. Ele nos conta que viver a vida de forma “limpinha” demais nos rouba a informação necessária para se estar inteiramente preparado para se recuperar. Temos que, ao invés de viver com medo de adoecer, devemos nos permitir formas naturais de apoiar nossos filhos para que eles se recuperem rapidamente das doenças com eficiência: uma boa alimentação, hidratação, probióticos (alimentos ricos em bactérias que produzem efeitos benéficos na flora intestinal, normalmente indicados para prevenir e tratar doenças como bactérias ácido-lácticas, bactérias não ácido lácticas e leveduras), boas noites de sono e exercícios constantes. Mas afirma que o mais importante é, ao invés de focar em quantas vezes a criança fica doente, é celebrar todas as vezes que ela melhorou.
8. A recuperação leva tempo.
De acordo com o Dr. Cowan, a medicina mais alternativa que ele hoje pratica é “dar tempo ao tempo”. Como sociedade, estamos viciados em soluções rápidas, pois não temos mais tempo para ficar doentes. Como médico, ele foi treinado para ser uma espécie de glorioso bombeiro-herói, e foi obrigado a resolver emergências e “apagar incêndios” de forma rápida e eficiente. Segundo ele, nas emergências os remédios fortes são geralmente necessários para salvar vidas, mas a maioria dos problemas de saúde da infância não são enormes emergências. Neste caso, leva-se muito mais que apenas remédio forte; leva tempo.
E é aí que ele se coloca em nosso lugar e diz que entende que se ausentar do trabalho por mais um dia porque a criança foi mandada da escola pra casa por causa de um nariz escorrendo pode estressar ainda mais nossas vidas já muito estressadas.
Mas ele insiste dizendo que as crianças o ensinaram que a recuperação é um tipo de processo de desenvolvimento que possui seus próprios estágios também. E que quando não damos a elas o tempo necessário para que se recuperem, roubamos os estágios necessários que elas precisam para aprenderem a desenvolver uma saúde duradoura.
Muito difícil! Tempo, tempo, tempo, nosso maior amigo na questão da recuperação, e o nosso maior inimigo em nosso dia-a-dia héctico, pela enorme falta que faz. Daria tudo por mais tempo!
Segundo o Dr. Cowan, quando damos tempo ao tempo para nos recuperarmos, a doença se torna uma viagem de descobertas, não apenas um destino; começamos a enxergar saúde e doença como dois lados de uma mesma moeda. Desejo!
9. O segredo da vida é desapegar.
Dr. Cowan faz questão de nos lembrar que a vida é um processo de constantes perdas, em que temos que ceder constantemente. Ele explica que as coisas que insistimos em manter por muito tempo, acabam por se transformar em outras coisas. Ele compara com o fim da primavera e logo depois a chegada do verão, onde cada estágio de desenvolvimento é um processo de desapego. Como por exemplo, deixar de engatinhar leva a andar. Deixar de balbuciar leva a falar. A infância leva à adolescência. Ao inspirar, você depois expira. Cada estação, a cada estágio, cada ritmo de nossas vidas é uma forma de desapegar. E isto permite nos livrar do que não precisamos para fazer espaço para novas informações. Dr. Cowan afirma que o aprender a desapegar não é sempre fácil e cada criança possui o seu próprio estilo de adaptação e tempo. Mas que a natureza favorece a diversidade, então o segredo aqui é lembrar de honrar a natureza única de nossos filhos. O artigo menciona um livro inteiro sobre esse assunto chamado de Fire Child Water Child que ele escreveu, fiquei curiosa, vou checar depois. A prática do desapego é realmente um arte e devemos praticar todos os dias, em inúmeras situações. Ele nos conta que a forma mais importante em que a criança nos ensina como desapegar está na sua maneira de brincar. Para a criança o “brincar” significa desapegar de inibições; nos liberta e nos permite não nos levar tão à sério. Brincar mais, excelente treino para o desapego.
10. Confie em si mesmo: Você é um perito sobre o seu filho.
Uma das coisas mais importantes que o médico ensina os pais de primeira viagem é como confiar neles mesmos. Nada pode ser mais assustador que a chegada de um bebê em nossas vidas pela primeira vez. Por mais preparados que estejamos, e por mais que todos achem que devemos saber de tudo, há sempre aquele sentimento de que não sabemos de nada. Eu me lembro de estar sozinha com o meu primeiro filho ainda no quarto da maternidade e olhar para ele no bercinho e pensar: e agora, faço o quê com você? Por favor não acorde, não saberei o que fazer.
Contudo, o genial médico, mais uma vez, nos tranquiliza dizendo as crianças nos ensinam que o “saber de nada” pode ser uma boa oportunidade de reaver nossos poderes de intuição.
Segundo ele, uma maternidade consciente começa com ouvir o seu coração e deixar a mente aberta em relação à vida de nossos filhos sem sentir medo ou entrar em pânico. Estudos já mostraram que a intuição de uma mãe é mais poderosa do que qualquer teste de laboratório ao prever problemas. Mas, infelizmente hoje somos inundados com tanta informação tenebrosa que isso acaba interferindo em nossa habilidade de ouvir nossa intuição.
Ele pede que levemos em consideração a dica fornecida pelo bebê. E nos instrui a olhar em seus olhos e tentar imaginar como deve ser estar consciente de um mundo (vivenciado pela primeira vez) antes mesmo que se tenha aprendido a falar, antes que todos estes rótulos que nos assustam e nos dividem entre bom e ruim, certo ou errados existam.
Ele nos lembra que os bebês não possuem inimigos, e que este simples exercício é como enxergar através da fonte. É o que os Budistas Zen chamam de “mentes iniciantes”. Ele nos pede que observemos de perto como o bebê respira com a sua barriga, e afirma que é o que se chama de respiração de Qigong. E aí, pede para parar de pensar por um momento e tentar respirar desta forma. Ele garante que poderemos achar as respostas que procuramos ali mesmo. Mais uma vez, genial, não?
11. Invista na visão a longo prazo. (só porque é fácil se levar pelo imediatismo de um problema, especialmente nas madrugadas)
Após observar milhares de crianças cresceram até virarem adultos, ele garante que o que parece ser um enorme problema aos 4 meses de idade ou mesmo aos 14 anos de idade pode se resumir a apenas uma pequena pedra no caminho. Ele diz que as crianças possuem o poder de ensinar como ter uma visão da vida a longo prazo. E que quando damos um passo para trás para enxergar o cenário como um todo, descobrimos sabedoria e compaixão. Não custa nada tentar, né?
Comments