A Palavra
- Danielle Apocalypse
- 18 de jan. de 2024
- 1 min de leitura
“Com ela (a palavra), nasce o amor que move o sol e as estrelas, o doente se cura e o morto segue para outro mundo sem deixar de existir no mundo dos vivos. Com ela, o consolo se torna possível e a dor da perda pode ser superada.
A palavra serve para unir, curar, consolar… Porém, também para desunir, prejudicar, desesperar… Em Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa escreveu que viver é perigoso.
Se substituirmos viver por falar, teremos uma máxima igualmente verdadeira pois falar é perigoso, implica cuidado. Daí a razão pela qual se diz que o silêncio é de ouro.
Mas quem não fala não se liga realmente aos outros. Para encantar, é preciso correr o risco de decepcionar. Para ser aprovado, é preciso se expor à desaprovação.
Portanto, é imperativo falar. Isso significa que só nos resta saber falar, ou seja, não dizer o que não deve ser dito. Só resta a prudência que, além de necessária, é possível, embora suponha uma vigilância contínua.
Nós nos fazemos através da palavra, e, no entanto, a consciência disso é insuficiente. Por que não somos educados para escutar o que dizemos. Como se essa educação devesse ser privilégio do psicanalista, e não um recurso ao alcance de todos.
O fato é que poucos são capazes de se escutar e essa incapacidade é a maior razão do conflito entre as pessoas e os povos. Quem se escuta está mais preparado para fazer bom uso da palavra.
Para usá-la como um fio que conecta ao outro e não como uma espada que separa e mata. A sorte depende e muito do que nós dizemos.”
Betty Milan, psicanalista
Comments