O lado bom da crise
- Danielle Apocalypse
- 18 de jan. de 2024
- 5 min de leitura
Não me considero uma pessoa pessimista. Apesar de no dia a dia sempre me expressar de forma intensa, com palavras fortes e talvez em um volume um tanto mais alto que o da maioria (minha mãe vive chamando a minha atenção para este fato), não gosto e não faço uso do adjetivo.
Sou porém, objetiva no meu modo de pensar. Se tiver que me dar algum adjetivo, prefiro me auto definir como uma pessoa cética.
Por definição, o cético é uma pessoa que não acredita, que duvida ou se apresenta como incrédulo ou descrente — uma pessoa com predisposição constante para a dúvida, para a incredulidade. Já o ceticismo é um estado de quem duvida de tudo, de quem é descrente.
Ao meu modo de pensar, duvidar é bom. A dúvida nos faz investigar, pensar a respeito da razão das coisas, atiça a curiosidade, nos traz questionamentos que em boa parte das vezes resulta em respostas.
Vivemos um estado de ceticismo neste exato momento. Toda essa crise sempre presente e constante, de início social, depois político e agora também econômico nos trouxe a descrença, a dúvida, a incredulidade. Uma descrença de valores sócio-político-econômicos (Ainda podemos usar hifens neste caso?
Na dúvida, eu uso!) tomou conta geral de toda a nação brasileira.
No entanto, o brasileiro ainda insiste em acreditar, em pensar de forma positiva, em acreditar que as coisas podem mudar, sempre para melhor. Nisso o brasileiro não mudou.
É bonito ver tanta manifestação de insatisfação e espanto para com a nossa situação política atual. Independente do pensamento e credos políticos, manifestar a opinião é sempre válido e importante para a evolução de ideias.
Porém eu, e falo apenas por mim, sendo realista e cética no meu modo particular de ser e sem querer impôr nada a ninguém, que fique bem claro isso, não acredito em manifestações populares e em grandes mudanças imediatas na atual conjuntura do país.
Sou cética em relação ao meu país e ao meu povo. Sou cética no modo com que todos nós agimos perante nossos desejos particulares. Sou cética com relação a forma com que o ser humano em geral se comporta diante de situações extremas.
Não aprendemos (ou desaprendemos) a viver no coletivo, e aprendemos com veemência a viver no famoso “jeitinho brasileiro”, no “pega pra capar”, no “toma lá dá cá”, no eu “vi primeiro”, no “achado não é roubado”, no “quem ri por último, ri melhor”, no “esse é meu e ninguém tasca” e por aí vai. Não é à toa que são expressões bastante populares.
A realidade é que nem todo mundo é corrupto, mas todo ser humano é de alguma forma e por alguma coisa corruptível, basta haver o desejo.
Desejar algo que não tem ou que não é seu não é necessariamente errado ou ruim. A grama do vizinho sempre será mais verde, pois estamos sempre desejando algo melhor. É parte da nossa evolução humana querer melhorar. Não há mal em ser corrompido. Corromper-se, perverter-se, depravar-se, ao seu modo de pensar, às suas próprias ideias e pensamentos não é ilegal. De uma forma ou de outra estamos sempre sendo corrompidos por situações diversas. Não confunda o ato de corromper ou ser corrompido com a palavra corrupção.
Corrupção é o efeito ou ato de corromper alguém ou algo, com a finalidade de obter vantagens em relação aos outros por meios considerados ilegais ou ilícitos.
A real importância está na escolha, nas atitudes, na ação. É aquilo que fazemos para conseguir o que desejamos, a finalidade, os meios, o prejudicar os outros tirando vantagens para si, que é errado. É nessa hora que podemos nos perder.
É o egoísmo, a ganância, a individualidade exagerada e a falta de solidariedade e pensamento coletivo que nos leva a escolhas, atitudes e ações erradas. É o tomar na força, roubar ou invadir o outro na intenção de ter a mesma grama, ao invés de procurar saber o que fazer para ter uma grama igual ou até mais verde.
É aqui que entra outro famoso jargão: a grama mais verde é aquela que se rega, com o próprio suor, com seus próprios méritos, sacrifícios e trabalho.
Mas eu acredito no recomeço (olha eu já me corrompendo pela credulidade) mesmo que a passos de formiguinha. Acredito no despertar de toda uma nova consciência sócio-política-econômica (Olha os hifens de novo! Gostei deles, vou abusar!) que daqui pra frente vai nos acompanhar para sempre. Somos um país relativamente novo em comparação ao chamado Velho Mundo, praticamente um pré-adolescente (Resolvi consultar, usa-se hífen nos vocábulos com os prefixos tônicos pós-, pré- e pró-, acentuados graficamente) aprendendo a se expressar e identificar seus partidos nas questões da vida.
Temos todo um longo trajeto pela frente, se considerarmos o curso natural da vida. Ainda vamos mudar muito de opinião, quebrar a cara, cair e levantar, envelhecer em conceitos e nos recriar sempre — como se deve ser durante a evolução natural da existência. Iremos nos corromper inúmeras vezes – mas espero que por compaixão, por amor, por desejo. Sou realista. Sou imperfeita.
Sou humana. Eu me permito corromper. Mas me corromper pelas minhas próprias mudanças de ideias, pelas minhas transformações internas e externas, pelos meus próprios princípios, pelos meus desejos, pela minha eterna mutação humana, sem prejudicar o outro, às custas do meu trabalho, de mim mesma, de mais ninguém.
É por esta razão que não me acho pessimista. É na crise que se encontram as saídas, seja qual for a sua crise. E toda crise tem seu lado bom, isso sim é um pensamento positivo.
Na crise aprendemos a dar valor a coisas que não percebíamos e passamos a dar menos valor às coisas que percebemos que não precisamos. Isso é fato.
Toda essa crise vai nos custar sacrifícios, talvez mais para uns, menos para outros, mas todos, sem exceção terão que se sacrificar, pelo menos um pouco, aqui e ali. Nos tornamos mais econômicos, menos consumistas. Passamos a agregar valores reais às necessidades básicas.
Não desperdiçamos, seja tempo, dinheiro ou alimento. Somos mais solidários, ficamos mais unidos. O coletivo passa a fazer parte de nossas vidas de forma constante, pois na crise, o que falta para um, falta também para todos.
Quando aprendemos a viver com pouco ou com apenas o necessário, valorizamos bem mais o que temos, e ainda mais o prêmio, o extra, a compensação.
Na crise, o pobre se junta ao rico, o negro ao branco, o estranho, o extremista, o fanático, o religioso, os coxinhas, os partidários, as piruas, as patricinhas, o nerd, o ignorante, o empresário, o proletário, todos se juntam, e juntos nos misturamos, somos fortes e evoluímos. O todo, pelo bem de todos, sobrevive a crise, foi assim sempre.
Por uma REvolução evolutiva, seja ela qual for, proponho-me a me corromper de novo, deixo de ser cética e passo à ser crente – devota à humanidade, mais uma vez.
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