Recintos bem Frequentados, Toaletes nem Tanto
- Danielle Apocalypse
- 18 de jan. de 2024
- 3 min de leitura
Hoje em dia é difícil encontrar um lugar que não tenha investido fortunas em uma decoração de ambiente arrojada, um design de interiores sofisticado para atrair ainda mais uma seleta clientela.
Os estabelecimentos, sejam lá quais forem, estão inovando e superando expectativas em termos de serviços diferenciados e ambientes cuidadosamente elaborados para o conforto e bem-estar das pessoas que irão passar a frequentá-los.
Fico sempre satisfeita ao entrar em lugares onde percebo que a energia dispensada ao desenvolver o projeto do lugar foi revertida em requinte, bom gosto e sofisticação. Tudo isto acaba atraindo uma clientela selecionada. Pelo menos, ao meu ver, ambientes como estes, deveriam atrair pessoas com um certo nível social, educação, senso ético, sem falar em classe.
Mas percebo que isto não chega a ser uma regra. Pelo o que tenho observado, acho que requinte, bom gosto e sofisticação, não são sinônimos ou andam juntos com a educação e as boas maneiras. Cheguei a esta conclusão ao observar como as pessoas se comportam ao usarem o toalete destes mesmos recintos.
Cheguei a conclusão de que não há uma comparação sequer com o nível social da clientela. Acho eu então, que a educação destas pessoas não se equipara com a apresentação do ambiente. As pessoas que ali frequentam podem até parecer finas, educadas e sofisticadas na aparência e em suas roupas. Podem ter nível social adequado, e quem sabe até apresentam uma certa classe – mas com o perdão da palavra, ao se depararem sozinhas em um pequenino vestíbulo, deixam todas estas qualidades que deveriam ser exemplos de boas maneiras, cair por descarga abaixo.
Você encontra de tudo. É papel jogado no chão, e em todo lugar menos no lixo, pias encharcadas, vasos sanitários usados e imundos, mulheres caídas num canto, discutindo, socando as portas, ou somente preocupadas em retocar a maquiagem e o penteado.
Acho que se pudéssemos observar os toaletes antes de entrar nestes lugares, jamais entraríamos neles. O que acontece com a educação e a classe destas pessoas? Será que elas só sabem se comportar em público?
Tudo bem que ali é mesmo um momento solitário e íntimo, onde a sua privacidade é completa (até que alguém bata na sua porta perguntando se vai demorar), mas convenhamos, o toalete é público e as pessoas não precisam testemunhar a falta de educação e desleixo de outros.
Fico abismada com este tipo de comportamento. Está certo de que não temos os mesmos cuidados com aquilo que não nos pertence, mas deveríamos. Pode não ser a mesma coisa que estar usando o próprio toalete de casa, mas deveria.
Afinal não deixamos nossas partes íntimas em casa quando vamos a um restaurante, bar ou boate, deixamos? O fato de outras pessoas usarem o mesmo toalete já deveria ser uma dica construtiva para que as boas maneiras fossem colocadas em prática em respeito ao coletivo.
Ninguém é obrigado a navegar por entre mares desconhecidos, ou desbravar territórios inexplorados participando da intimidade de quem nem sabemos que passou por lá. Os toaletes deveriam ser uma extensão do bom gosto, requinte e sofisticação do lugar que frequentamos, e não o lugar onde despejamos esgoto abaixo toda a nossa educação higiênica e sanitária.
Gostaria que os toaletes fossem tão bem frequentados como os grandes salões, pistas de dança, bares e restaurantes destes lugares. Tomara que um dia estas mesmas pessoas que gostam de frequentar bons lugares passem a se comportar com a mesma classe entre as quatro paredes de um vestíbulo de um toalete.
Afinal, não são entre quatro paredes que os maiores segredos são revelados? Que sejam revelados com bom gosto, requinte, sofisticação e acima de tudo – educação! Sem sacanagem!
(Niterói – RJ, 2.004)
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